Durante um longo período esse singelo espaço
se calou. Foram muitos os acontecimentos... Alegres, divertidos, cansativos,
emotivos, mas foram também tristes, mesmo em “tempos de comemorações”, como os
que vivemos.
As
angústias por não falar-lhes foram imensas, porém em meio aos turbilhões de
emoções da vida, o silêncio foi necessário. Mas será que deveremos continuar
calados? Calados diante de tantos encontros e (des)encontros, neste mundo
selvagem?
Estamos
em um período festivo, acabamos de viver o Natal. Tempos de confraternizar! Tempos
de Paz! Tempos de paz? Que Paz? A mesma que faz milhões de pessoas mundo afora
irem ao comércio, enlouquecidos comprar presentes? A mesma paz que nos faz
discutir em filas de pagamentos por causa de uma vaga, ou do tempo, ou de um “esperto”
que quis tomar a frente? Ou como diria meu revolucionário companheiro... Um “João
Sem Braço”?
Gostaria de deixar claro, entretanto que nada
temos contra os “João’s”. Pelo contrário, muito nos agradamos do mesmo. E a bem
da verdade, poderia ser qualquer um dos muitos nomes existentes neste mundão de
meu Deus.
Mas
bem, voltemos a questionar... O que é o Natal? Quem é o Papai Noel? Quem
inventou esse cara? E pra falar a verdade, para que ele serve? Ops, essa eu sei
responder, e acredito que você também saiba, e por mais que não queira
acreditar... Sim, todos sabem!
Muitos
se esquecem, principalmente nas filas dos comércios que o Natal é Tempo de
Reafirmação, de Contrição, de Renovação, de Nascimento... É vida, que dá a
vida! É a flor que brota e não deve ser o bolso que se esgota, o consumismo que
se adota. Mas, enfim, alguém um dia criou o papai Noel, aquele cara que todos
já acreditaram. Em sua inocência de criança, na sua inventada infância, todos
um dia sonharam na noite de natal, imaginaram e até viram o bom velhinho. Mesmo
porque, para ver basta querer enxergar.
Mas
muitos também se decepcionaram, principalmente aqueles menos desprovidos
financeiramente, o Bom Velhinho do consumismo, do capitalismo, não conseguiu
comprar o presente certo.
Depois
do Natal, muitas crianças sorriem, mas também muitas choram... E nós, os adultos,
nos esquecemos o verdadeiro significado do dia 25 de dezembro, a fim de vermos
nos olhos de nossos filhos e filhas, pais, irmãs e irmãos, sobrinhos e
sobrinhas etc a alegria de receber um presente.
O
bichinho do consumismo nos infectou novamente... Ano que vem tem mais! Presentes
de páscoa, dia das crianças, dia dos pais, dia das mães, dos namorados e outra
vez... Dia de Natal e mais, muito mais dívidas e contas a pagar.
“Mas
é preciso viver. E viver não é brincadeira não (...) E aí dinheiro na mão é
vendaval...”
Por
aqui encerro mais essa participação, porém deixo a todos vocês meus caros
amigos(as) um texto de Aldemar Paiva “ Monólogo de Natal”, para com eles
refletirmos, pensarmos, indagarmos e criticarmos o que o bichinho do consumismo
faz conosco em tempos de Natal e Papai Noel!
Para
Papai Noel:
"Eu
não gosto de você, Papai Noel!
Também
não gosto desse seu papel
De
vender ilusões à burguesia.
Se
os garotos humildes da cidade
Soubessem
do seu ódio à humildade,
Jogavam
pedra nessa fantasia.
Você
talvez nem se recorde mais.
Cresci
depressa, me tornei rapaz,
Sem
sequer, no entanto, esquecer o que passou.
Fiz-lhe
um bilhete, pedindo um presente
E
a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou
o sol e você não chegou.
Dias
depois, meu pobre pai, cansado,
Trouxe
um trenzinho feio, enferrujado,
Que
me entregou com tanta hesitação.
Fechou
os olhos e balbuciou:
“É
pra você, Papai Noel mandou”.
E
se esquivou, contendo a emoção.
Alegre
e inocente nesse caso,
Eu
pensei que meu bilhete com atraso,
Chegaria
às suas mãos, no fim do mês.
Limpei
o trem, dei corda, ele partiu
Deu
muitas voltas e meu pai sorriu
E
me abraçou pela última vez.
O
resto eu só pude compreender
Quando
cresci e comecei a ver
Todas
as coisas com realidade.
Meu
pai chegou um dia e disse com medo:
- Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu
vou trocar por outro, na cidade.
Dei-lhe
o trenzinho, quase a soluçar
E
como quem não quer abandonar
Um
mimo que nos deu quem lhe quer bem,
Disse
medroso: - Eu só queria ele...
Eu
não quero outro brinquedo... eu quero aquele
E
por favor, não vá levar meu trem.
Meu
pai calou-se e pelo rosto veio
Descendo
um pranto que, eu ainda creio,
Tão
puro e santo, só Jesus chorou.
Bateu
a porta com muito ruído,
Mamãe
gritou, ele não deu ouvidos.
Saiu
correndo e nunca mais voltou.
Você,
Papai Noel, me transformou
num
homem que a infância arruinou.
Sem
pai e sem brinquedos. Afinal,
Dos
seus presentes, não há um que sobre
Para
a riqueza do menino pobre
que
sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu
pobre pai doente, mal vestido,
Para
não me ver assim desiludido,
Comprou
por qualquer preço uma ilusão
Num
gesto nobre, humano e decisivo,
Foi
longe pra trazer-me um lenitivo,
Roubando
o trem do filho do patrão.
Pensei
que viajara, no entanto,
Depois
de grande, minha mãe, em prantos,
Contou-me
que fora preso. E como réu,
Ninguém
a absolvê-lo se atrevia.
Foi
definhando, até que Deus, um dia,
entrou
na cela e o libertou pro Céu."
(Aldemar Paiva)
Obs.:
Não preciso dizer nada...O texto fala por si só...
Com
Lágrimas nos olhos...
Vamos
à luta, pois
LUTAREMOS
SEMPRE!